1 de fev. de 2008

Rede Feminista de Saúde participa, em Bogotá, da reunião da campanha internacional para enfrentar a banalização da violência contra as mulheres


A Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos participará de 6 a 9 de fevereiro em Bogotá, Colômbia, de uma reunião da campanha internacional We can stop Violence Against Women (Nós podemos parar com a violência contra as mulheres) idealizada para enfrentar a banalização da violência de gênero contra as mulheres. A We can - Nós podemos – é, portanto, um desafio e uma proposta de mudanças nos padrões culturais calcados neste tipo de violência. As representantes brasileiras nesse evento, que terá a coordenação geral da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe (RSMLAC), serão Telia Negrão, secretária executiva da Rede Feminista de Saúde e Marlene Libardoni, coordenadora da Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher. Telia é também integrante do Conselho Diretor e do Comitê Editorial da RSMLAC.

Quem promove - A Campanha é promovida pela Oxfam e Novib, organizações da Inglaterra e Holanda, que atuam em vários continentes. A partir deste ano, a We Can passa a ser expandida pelos países da América Latina e do Caribe, através das redes que atuam no campo da saúde e da violência contra a mulher. O encontro das lideranças feministas em Bogotá servirá para elaborar a metodologia de trabalho e definir os focos da campanha, bem como o desenvolvimento de ações conjuntas em todos os países latino-americanos e caribenhos. O objetivo é desconstruir o alto nível de aceitação social, de naturalização e de banalização da violência contra as mulheres e meninas, para que seja possível promover mudanças sociais e culturais e de comportamento dirigidos à erradicação das diversas expressões de violência de gênero. A Campanha vai também tratar do problema da violência nos meios de comunicação e publicidade, dos serviços de saúde, das leis ainda presentes em alguns países que discriminam as mulheres ou as consideram incapazes. A pornografia e outras manifestações de violação também serão observadas.

O poder masculino – De acordo com Telia Negrão, grande parte dos países da América Latina e do Caribe conta com legislações específicas nesta matéria, instâncias de denúncias, protocolos e equipes especializadas para atenção às vítimas. Avanços que foram atingidos no marco das convenções internacionais, em especial da Convenção de Belém de Pará que visa Punir e Erradicar a Violência Contra as Mulheres (1994). No entanto, prossegue a Secretária Executiva da Rede, “esses mecanismos legais não têm conseguido alterar substancialmente os padrões culturais calcados no machismo e no poder violento masculino sobre a vida das mulheres”. Calcula-se hoje que cerca de 70% dos casos de mulheres atendidas retornam as situações de violência no entorno doméstico, pois nem as medidas cautelares, nem as abordagens têm atingido de fato o conjunto da sociedade. Estas formas de violência serão observadas pela Campanha, como mais agravadas, quando as mulheres se encontram em contextos sociais e econômicos de exploração, exclusão e racismo. Telia acredita que esta campanha harmonizada em toda a região latino-americana e caribenha, possa obter maior visibilidade e sensibilizar sociedade para incorporar a luta das mulheres pelo fim das violências de gênero.
O custo da violência - Estudos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) demonstram que uma média de 30 a 45% das mulheres da América Latina e Caribe já foram alvo de violência física, sexual e psicológica. Dizem ainda que o custo da violência doméstica equivale a 2% do PIB da região, calculado em termos de dias não trabalhados pelas mulheres por causa de maus tratos e danos à saúde física e mental. A redução de anos de vida saudável agrega custos sociais altíssimos e impõe às mulheres uma qualidade de vida abaixo do almejado pelas próprias mulheres. Mantêm-se, ainda, dificuldades na obtenção de dados fidedignos por parte dos países, uma vez que a maioria não conta com pesquisas nacionais. A invisibilidade do incesto, do assédio sexual, do estupro e de outras formas de violência se deve às maiores dificuldades de denunciar, principalmente pelo medo das mulheres e meninas. E isto acontece devido ao risco de sofrerem violência institucional por parte dos serviços saúde e segurança, nos quais muitas vezes não se considera a palavra das vítimas, fruto dos padrões culturais que culpabilizam as mulheres pelas violências sofridas.

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