Telia Negrão vem participando das discussões sobre a Plataforma de Ação de Beijing +15 que foi adotada pelos governos na Quarta Conferência Mundial das Nações Unidas sobre as Mulheres realizada na China e redigida com uma forte influência das organizações da sociedade civil. Na foto, a secretária executiva da RFS está acompanhada das feministas, à esquerda, Nadiejda Jean e Lise Marie Dejan, da ong Solidariedade Mulheres Haitianas - Sofa/Haiti, e de Aldita, Cruz, de Porto Rico, à direita. Nesta quarta-feira, 27, a secretária executiva da RFS participa do lançamento do acampamento de solidariedade feminista internacional de comunicação Myrian Merlet que está instalado em Jimani, fronteira da República Dominicana com o Haiti.
Abaixo o depoimento completo de Telia Negrão:
Querida mulheres
Escrevo-lhes da Republica Dominicana, debaixo de muita emoçao que sinto necessidade de compartilhar, pois esta muito represada. Algumas companheiras conseguiram ir agora a um bar para desatar um pouco, preferi disputar um “compú”, como se diz por aqui e relatar um pouco deste dia de trabalho e de tanta carga emocional.
Pedi a Margareth Arilha, antes de viajar, que abrisse uma conta para arrecadarmos, como mulheres, para o Haiti. Daqui quero dar mais um recado à Marga: é urgente! E podemos ajudar com um real ou quanto pudermos. O que não se pode é deixar para depois o que tem que ser feito agora!
Outras companheiras, deixaram de dormir depois de entrar em contato com a tragédia haitiana. Há uma espécie de formigueiro que não para nunca por aqui: a listas de necessidades chegam, tão concretas, que não há o que pensar, há o que fazer. Precisa-se de tudo, mas as mulheres haitianas precisam de coisas que nós mulheres sabemos que precisamos quando estamos em situação de trauma, perda e dor. Sofrem de infeccões por fungos e bactérias ginecológicas produzidas pela baixa de resistência, fruto da tristeza, do medo, do sobressalto, do luto que nem conseguiram começar a viver ainda.
Hoje,26, enviei ao Ministério da Saúde do Brasil um pedido muito especial: mandem medicamentos ginecológicos, não esqueçam das mulheres do Haiti! E peço a todas vocês que reforcem este pedido, que levem ao Conselho Nacional de Saúde, ao Conselho da Mulher, que tornem isto uma demanda pública.
Me preparei também emocionalmente para o contato com as companheiras haitianas. Nosso imaginário vai longe quando estamos frente a uma situação desconhecida que está por vir. Mas quando aquelas duas mulheres entraram na sala do apartamento onde as esperávamos com uma janta deliciosa, foi tão profundo o silêncio, foi tão agudo o olhar, foi como se todas nós, 15 mulheres, todas parássemos de respirar. E só sabíamos oferecer um abraço, um beijo, como se estivéssemos, assim, abraçando também aquela gente toda que ainda vaga pelas ruas, na esperança quase acabada de encontrar alguém que está sumido.
Não falamos nenhuma palavra de kreole, balbuciamos algumas palavras em francês, eu treinei um pouco antes de viajar e trouxe meu dicionário de viagem, elas quase não falam espanhol, muito menos português, mas conversamos por quase duas horas.
Amanhã haverá um ato público de lançamento do Acampamento Internacional Feminista, que ainda necessita ter o aval das haitianas. Um projeto lindo de solidariedade, que vai abrir um canal de comunicação para dar voz a estas mulheres. Vamos colaborar como podemos.
Envio a todas um grande abraço, quero que sintam um pouco da emoção que me invadiu.
Telia
2 comentários:
Télia, tu és uma mulher GRANDE. Nos orgulhamos de ti. Toda a minha solidariedade. Estou fazendo o que posso daqui de longe. Bem perto de todas. Tânia Carvalho
Télia...que depoimento emocionante...e de muita relevancia,pois acredito que não passou pela cabeça das pessoas a importancia dos medicamentos ginecologicos...quero te dizer que de coração estou perto de vcs...e podem contar comigo para o que precisarem...queria estar ai com vcs...um bj enorme no coração de cada uma destas mulheres
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